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Fernanda Helms, Agência Yaih

Dr. Edilberto Luiz Hammes: entre a Medicina e História, uma jornada de sonhos e Memórias



Ao longo de 50 anos dedicados à medicina e outros tantos dedicados à pesquisa histórica, Dr. Edilberto Luiz Hammes consolidou um legado singular em São Lourenço do Sul. Suas trajetórias como médico e pesquisador parecem, à primeira vista, áreas distintas, mas ele revela que ambas se entrelaçam em uma linha comum de dedicação e compromisso com a comunidade. Nascido em um lar de ascendência alemã, ele cresceu em meio a relatos e documentos familiares que, anos depois, viriam a guiar sua pesquisa sobre a imigração alemã e pomerana no município.


De médico a pesquisador: uma mudança guiada por histórias familiares

Formado em medicina em 1969, Dr. Hammes praticou a profissão por cinco décadas. “Eu sou médico por escolha”, enfatizou, ao falar sobre o quanto a profissão foi e sempre será parte essencial de sua identidade. Ele explica que, ao chegar aos 60 anos, começou a sentir a necessidade de registrar as histórias de sua família e de sua cidade. Esse impulso veio em grande parte do pai, que, mesmo sem instrução formal, tinha um vasto conhecimento e paixão pela história. Foi esse exemplo que inspirou Dr. Hammes a reunir os documentos deixados pelo pai, herdados de tios e avós imigrantes.


Assim, nas horas vagas, Dr. Hammes encontrava tempo para se debruçar sobre registros, correspondências e artigos antigos, transformando o que antes era apenas uma coleção de documentos familiares em um projeto maior: uma radiografia da história de São Lourenço do Sul. O projeto inicial de um livro cresceu tanto que Dr. Hammes acabou expandindo a pesquisa para quatro volumes, totalizando mais de 2 mil páginas. A obra, intitulada “São Lourenço do Sul – Radiografia de um Município”, foi lançada após anos de trabalho exaustivo em feriados e finais de semana. “Foram 15 anos escrevendo e mais dois até publicar. Foram 17 anos entre o início e a publicação da obra final”, relembrou ele.


Desafios e superação: a tecnologia a serviço da preservação histórica

Ao descrever os desafios de escrever a obra, Dr. Hammes lembrou as dificuldades enfrentadas no início, antes da popularização dos computadores. “Eu comecei a escrever em máquina de datilografia”, contou. “Às vezes eu precisava inserir páginas no meio do texto, e isso era muito trabalhoso. Felizmente, com o avanço da tecnologia, o computador veio facilitar muito a organização do material.” Essa transição trouxe um alívio para Dr. Hammes, permitindo que ele mantivesse um controle mais preciso sobre as centenas de registros históricos e as histórias que compõem os quatro volumes.


Dr. Hammes também co-escreveu um livro sobre a Segunda Guerra Mundial, que aborda o episódio conhecido como “Dia do Quebra-quebra”, um movimento de repressão e destruição direcionado a famílias com sobrenomes alemães, ocorrido em várias cidades do Brasil durante o conflito. Em São Lourenço do Sul, o dia do quebra-quebra coincidiu com seu nascimento, no dia 19 de agosto de 1942, uma lembrança que ele carrega como uma marca simbólica e pessoal. “Eu nasci no dia do quebra-quebra, e isso sempre me fez ter uma curiosidade especial sobre o que estava acontecendo no mundo naquele dia”, disse ele. Dr. Hammes chegou a contatar jornais de São Paulo para obter cópias dos jornais dos dias 18, 19 e 20 de agosto de 1942, que ajudaram a contextualizar o clima de hostilidade contra os imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil.


A preservação da cultura e o interesse crescente dos jovens

Hoje, Dr. Hammes observa com satisfação que a preservação da memória dos imigrantes alemães e pomeranos tem conquistado a atenção das novas gerações. Ele explica que, quando iniciou seus estudos históricos, poucos pareciam interessados em conhecer as raízes familiares e a herança cultural de seus antepassados. “A maioria não queria saber quem eram os antepassados, mas isso tem mudado aos poucos”, observa. Esse aumento no interesse foi um dos motivos que o levaram a criar uma segunda edição do Dicionário de Sobrenomes de Origem Alemã, uma obra que reúne informações genealógicas sobre quase 1.300 famílias de origem alemã. “Muitos jovens hoje procuram esses dados para solicitar a cidadania alemã, então, é gratificante ver esse crescente interesse pelo passado”, completa.


O Monumento Pórtico do Sol: um sonho realizado

Para além das contribuições literárias, Dr. Hammes deixou sua marca física na cidade com a construção do Monumento Pórtico do Sol, um símbolo que se destaca na entrada do município. Esse projeto, segundo ele, surgiu de uma necessidade, pois se perdeu da entrada da cidade e também de um sonho literal, um daqueles que ele faz questão de registrar ao acordar. “Aliás, tudo que eu fiz até hoje vem de sonhos. Eu me levanto de noite e escrevo o que sonho para não esquecer no outro dia”, compartilhou.


A inspiração para o pórtico veio de viagens e da observação de estruturas semelhantes em outras cidades. “Eu me lembro de quando vi meu primeiro pórtico, em Rio Grande, em formato de Máquina de Costura, já que era uma cidade industrial. Na época, eu já imaginava como seria ter algo assim em São Lourenço.” Anos mais tarde, como presidente do Rotary Club, Dr. Hammes viu a oportunidade de tornar o sonho realidade. Ele liderou o projeto desde a arrecadação de fundos até a execução da obra. “Eu sonhei muito, e realizei muito pelos sonhos que eu tive”, declarou emocionado, referindo-se ao pórtico em formato de sol. “Hoje, o Pórtico do Sol é um símbolo turístico que aparece em panfletos e propagandas da cidade, e sempre que vejo isso, sinto uma felicidade indescritível”, disse ele.


Legado e aspirações para o futuro

Ao refletir sobre o legado que espera deixar para as próximas gerações, Dr. Hammes menciona tanto o Pórtico quanto a obra histórica sobre São Lourenço como suas principais contribuições. “Meu legado é o Pórtico e a história escrita em detalhes de São Lourenço do Sul até os anos 2000,” disse ele, reconhecendo o valor de sua pesquisa para as gerações futuras que busquem compreender a formação e o desenvolvimento da cidade.


Quando questionado sobre o que perguntaria a um antepassado imigrante, Dr. Hammes revela uma curiosidade especial pela experiência daqueles que cruzaram o oceano em direção ao Brasil. “Eu perguntaria sobre a vida deles antes de virem para cá, como foi a viagem e o que eles viram e viveram durante essa viagem. Tenho uma curiosidade muito grande, pois isso sabemos pouco.”


Dr. Hammes não para de sonhar e planejar. Com a segunda edição do Dicionário de Sobrenomes de Origem Alemã com data de lançamento já definida, ele continua a explorar novos projetos e a considerar futuras publicações. Seus sonhos de infância e suas aspirações foram transformados em legado concreto, um testemunho de dedicação que ecoará em São Lourenço do Sul por gerações.


A segunda edição do Dicionário de Sobrenomes de Origem Alemã será lançada no dia 7 de dezembro (sábado), à partir das 14h no Salão da Comunidade Católica Matriz.

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